Faro é a capital do Algarve e a maior cidade desta região, mas não faça como a maior parte dos turistas que chegam ao aeroporto e logo se apressam em ir para o resort ou cidade vizinha. Faro tem muita coisa para explorar e merece que lhe dedique um dia para poder ver tudo com calma.
A cidade propriamente dita não tem praia porque em toda a sua frente marítima há a reserva natural que falámos no artigo anterior – o Parque da Ria Formosa. Há aquele sentimento que se está perto do mar, e no entanto, tão longe ao mesmo tempo. Para chegar a qualquer uma das praias das ilhas que ficam nesta zona é complicado e só possível de barco, mas se conseguir vai ficar deslumbrado com a Ilha da Barreta, Ilha da Culatra, mais a este com a Ilha da Fuzeta ou com a ligeiramente mais acessível com a Ilha de Tavira. Admirar o pôr-do-sol em qualquer uma delas é um espetáculo imperdível e merecedor de todo o esforço para lá chegar.
Voltamos a Faro, a cidade que pouco tem de estação balnear, mas que tem um património rico no centro histórico (que é facilmente acessível a pé) e onde se encontra a Sé de Faro. Aliás, este centro é o reflexo da passagem de Romanos, que aqui fizeram um centro administrativo e portuário chamado Ossonoba, depois os visigodos que construíram a catedral dedicada a Santa Maria e mais tarde com os Árabes que a impulsionaram a um estatuto maior. Em 1249 D. Afonso III conquistou a cidade aos mouros e fortificou-a. Nos séculos seguintes, Faro torna-se numa cidade próspera devido à sua posição geográfica, ao seu porto e à exploração de comércio de sal e produtos agrícolas. Em 1499, o Rei D. Manuel da-lhe, ainda mais destaque, ao colocar em marcha uma profunda alteração urbanística e dotando-a de um hospital, da Igreja do Espírito Santo e de uma alfândega. Em 1540 é elevada ao estatuto de cidade e em 1577 passa a ser a sede do bispado do Algarve. No entanto, o saque e incêndio, em 1596, pelas tropas inglesas comandadas pelo conde de Essex destroem a cidade, danificando as muralhas e igrejas. Depois da sua reconstrução, Faro ergue-se novamente e começa um período de expansão, para logo em seguida os terramotos de 1722 e, em especial, o de 1755 destruírem uma boa parte da cidade fortificada, sendo que os edifícios mais bonitos e importantes da cidade datam sobretudo dos séculos XVIII e XIX, ou seja, posteriores aos dois sismos.
O Arco da Vila e a Sé
Mesmo no centro e, de frente para a marina de Faro, encontramos a entrada da zona histórica chamado de Arco da Vila. Este arco em estilo neoclássico construído no século XIX faz a ligação à zona mais antiga e é por ele que temos acesso à parte muralhada da cidade. Um pouco mais adiante entramos no Largo da Sé, uma praça enorme cheia de laranjeiras, e onde se encontra o Paço Episcopal, o Seminário de São José de Faro, a Câmara Municipal e a Sé de Faro.
A Sé, inicialmente construída em estilo gótico, é o ponto fulcral da praça e foi quase destruída por completo no ataque inglês de 1596 e depois, novamente, com o terramoto de 1755. Trata-se de uma igreja de três naves, separadas por colunas dóricas e arcos de volta perfeita com uma capela–mor e sete capelas construídas em diferentes períodos. No seu todo destacam-se os belos painéis de azulejos do século XVII e órgão barroco, decorado com motivos chineses. O único vestígio gótico que resistiu é a torre dos sinos, mas devido aos sucessivos “ataques” que igreja enfrentou há uma mistura de estilos arquitetónicos, permanecendo, no entanto, bonita e valer muito a pena a sua visita.
Há muitas igrejas que pode visitar em Faro, mas a Igreja do Carmo, cuja construção decorreu entre 1713 e 1719, destaca-se pelas várias capelas revestidas de talha dourada do período barroco e, em especial, a sua capela-mor. É nesta igreja, aliás, que surgem as primeiras manifestações do período rococó no Algarve. Em contraste com este esplendor a Capela dos Ossos, de 1816, apresenta nas suas paredes caveiras e grandes ossos retirados do cemitério dos frades.
Olhão
A menos de 10km da capital chegamos a Olhão, cidade essencialmente residencial e um dos maiores portos de pesca do Algarve, sendo um importante centro de produção de sardinha e atum de conserva. No centro destacam-se os terraços das casas e chaminés cúbicas que invocam a influência árabe. A principal igreja é a de Nossa Senhora do Rosário, na Praça da Restauração, construída entre 1691 e 1698. Atrás da igreja encontra-se a capela exterior de Nossa Senhora dos Aflitos. Não muito longe daqui dê um passada pelo Mercado de Olhão, dois edifícios em tijolo na zona ribeirinha, onde pode encontrar muitos cafés e banquinhas. Ele fica na Avenida 5 de Outubro, uma rua extensa junto à ria e ideal para passear e andar de bicicleta. O problema de Olhão é o mesmo de Faro: perto do mar, mas não no mar. As ilhas da Culatra e da Armona oferecem paisagens deslumbrantes e kilómetros de praias quase desertas, embora seja preciso ir de barco para lá chegar.
Tavira
A vinte e poucos kilómetros daqui, e depois de passar por pequenas vilas, chegamos a Tavira, uma cidade muito interessante pela beleza do seu centro histórico. Tudo gira em torno do Rio Gilão, da ponte de origem romana e das suas 21 igrejas. Tavira é atualmente uma cidade que vive das atividades piscatórias e turísticas e passou ao longo dos séculos por uma alternância de crescimento e declínio. Com os mouros ela era um importante porto, depois do século XVI começou a prosperar menos, situação agravada pela peste severa em 1645 e pelo assoreamento do porto. Mas hoje em dia ela tem excelentes motivos para uma visita, com um centro com muita vida, muitos cafés e esplanadas e bonitos monumentos tais como o castelo árabe, no cimo da colina, a torre do relógio da Igreja de Santa Maria do Castelo, a Igreja da Misericórdia e o Convento de Nossa Senhora da Graça, atualmente uma luxuosa pousada. As ilhas de Tavira e de Cabanas são acessíveis por barco e oferecem praias pouco movimentadas de areia dourada.
De Tavira até ao Rio Guadiana
Neste último trecho destaco a pequena aldeia de Cacela Velha, um povoado que fica numa colina e que oferece uma vista fabulosa sobre o mar. O acesso é feito através de uma estrada rural e as suas casas brancas em torno da igreja e ambiente tranquilo merecem sem dúvida uma visita. Ao longe vemos a praia e os pequenos barcos que salpicam a paisagem pintam um cenário bucólico digno de uma foto.
É a partir de Cacela Velha que o mar aberto retorna e as cidades ganham acesso direto à praia. Primeiro Manta Rota, depois Altura e finalmente Monte Gordo. Mas as três vilas não ganham o destaque de outros lugares do Barlavento, nem pelo edificado, nem pelos hotéis, nem pela vida noturna. Mesmo assim a Avenida Infante D. Henrique, em Monte Gordo, oferece mais vida com os seus restaurantes e pelo casino aqui instalado.
Se aprecia a água do mar mais quente, então esta parte do Algarve que fica já mais perto da fronteira com a Espanha, e consequentemente, do Mar Mediterrâneo, é o ideal para si. Podem até ser só uns dois graus a mais, mas fazem toda a diferença em relação à costa atlântica a oeste.
Finalmente chegamos a Vila Real de Santo António, construída segundo um projeto do Marquês de Pombal em 1774, ela quase faz lembrar a baixa de Lisboa, com ruas simétricas que mais parecem um quadriculado. Atualmente é um importante porto de pesca do Algarve e acolhe muitos turistas espanhóis dada a proximidade com o país vizinho, cuja ligação é feita através de uma ponte que liga os dois países um pouco mais a norte do centro. Esta cidade foi edificada na margem do Rio Guadiana e tem a Mata Nacional das Dunas em frente, mas mesmo assim a Praia de Santo António ou Monte Gordo ficam muito perto.