Naquela altura as coisas eram bem diferentes. Lisboa era igual, mas ao mesmo tempo bem diferente dos dias de hoje. No início dos anos 80, eu com dez anos, o país vivia uma situação económica mais frágil, não fazíamos parte da União Europeia, tínhamos saído de uma revolução que culminou no final de uma ditadura de 40 anos.
Aos poucos Lisboa, que já de si é uma cidade antiga com as suas ruelas, degradava-se cada vez mais. Lembro de fazer uma visita guiada por volta de 1995 a umas amigas brasileiras que visitavam Lisboa pela primeira vez e elas acharem tudo lindo e fantástico e eu só pensar: “mas estes prédios estão todos a cair, não entendo!”. Nessa altura não só a construção da maior parte do centro de Lisboa estava velha e a cair, como havia muito menos gente que agora. Lembro a vinda dos shoppings modernos em redor da cidade e o centro ficava totalmente deserto ao fim de semana. Um domingo à noite, por exemplo, era algo inexplicável: tudo às moscas! Sem gente, sem movimento, sem vida.
Nessa altura Lisboa tinha turistas sim, mas era preciso esperar por Junho e Julho. Em Agosto iam os portugueses de férias por isso os poucos turistas que havia queixavam-se de que estava tudo fechado! No Inverno desertavam todos, mesmo no Algarve.
O que mudou?
Bom numa resposta rápida: praticamente tudo e nada. Mudou tudo porque Lisboa entrou na moda e aquilo que antes passava totalmente despercebido faz hoje as delícias de quem nos visita. Com mais gente para lá e para cá o centro ganhou hotéis, restaurantes da moda, o Bairro Alto tem ainda mais gente que anteriormente, há prédios em reconstrução para onde quer que nos viremos. O aeroporto de Lisboa não pára e foram as companhias “low cost” que deram um empurrão gigante ao tráfego aéreo. Depois, Lisboa ganhou praças revitalizadas, ruelas esquecidas têm agora gente que fala delas e tantos e tantos turistas andam com máquinas fotográficas em punho para captarem lugares e ângulos que só aqui se encontram. Nesse aspeto parece que tudo mudou. O moderno do Parque das Nações, na parte oriental de Lisboa, contrasta agora com o Chiado, mas há lugar para tudo. Claro que com esta “movida” toda os preços também acordaram. Lisboa ainda continua a ser uma das cidades mais baratas da Europa, mas já não é o que era. Portugueses como eu ainda se sabem movimentar para encontrar bons locais para comer e beber, mas o dinheiro dos turistas está a ser cada vez mais sedutor.
O que não mudou?
Quando penso em Lisboa penso logo em luz. Dizem que a cidade luz está em França, mas é aqui que ela brilha de uma forma como não tem explicação. A luz de Lisboa é única e natural. O casario de cores claras, o reflexo do imenso rio Tejo antes de se lançar ao Atlântico e o sol que não despega muito daqui faz com que a luz seja de uma intensidade e brilho únicas. E depois há o subir e descer. As famosas sete colinas. Se quer visitar bem Lisboa nem vale a pena carregar esses sapatinhos porque aqui você precisa é de algo confortável para poder se sentir como o super-homem e super-mulher das calçadas portuguesas. E não mudou o falar alto das pessoas, os carros a buzinar, os cafés e bolinhos e um sem número de coisas que eu simplesmente adoro (outras nem tanto!). Lisboa está na moda, mas esta é a minha versão, menos turística seguramente, da minha Lisboa.