Santa Maria de Belém é uma das maiores freguesias de Lisboa e a mais ocidental já a tocar com Algés, um outro bairro já no concelho de Oeiras. Antes que você fique na dúvida sobre estas classificações aqui fica uma breve explicação: Portugal está dividido por distritos (cada um tem uma capital de distrito), cada distrito tem concelhos (por exemplo o concelho de Lisboa) e cada concelho tem várias freguesias. A freguesia de Algés já pertence ao conselho de Oeiras, ou seja, é uma zona limítrofe de Lisboa. Dadas estas explicações vamos voltar a Belém.
Porque Belém é tão conhecida?
A freguesia de Belém é uma das mais visitadas em Lisboa quer por turistas, quer pelos próprios Lisboetas. Acho que ela é, possivelmente depois da da Expo e do Chiado, uma das mais visitadas porque tem muitas coisas para ver e fazer, dá para passear à beira rio, andar de bicicleta ou ir ver uma exposição. Mais uma vez, a parte mais conhecida e que vale a pena visitar é aquela zona junto ao rio. É plana e dá para percorrer toda a pé. Comecemos então pela parte mais próxima de Alcântara. No artigo anterior falei-lhe do Lx Factory e é percorrendo a Avenida da Índia que se chega à Cordoaria Nacional, um edifício mandado construir em 1771 pelo Marquês de Pombal e que se destinava à produção de cabos, velas, cordas e diversos equipamentos para os navios da altura. Este edifício hoje em dia é utilizado para exposições por isso dependendo da altura em que visite Lisboa, quem sabe há alguma coisa interessante para ver. Dê uma vista de olhos para saber o que está a acontecer. Prosseguindo nesta mesma avenida, mesmo junto ao rio, vai encontrar um outro edifício bem recente da autoria do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha – o Museu dos Coches. Mas antes de falar sobre este museu, que aconselho realmente a visita, deixe-me recordar como se chega até aqui. Lembra-se do autocarro (ônibus) 728 que falei num artigo anterior. Pois bem, é esse mesmo. Ele sai da Portela de Sacavém, passa pela Expo, Baixa, Santos, Alcântara e finalmente Belém e Restelo (que é um bairro desta freguesia). É este autocarro que deve apanhar. Há outros autocarros, bem como o elétrico 15, mas todos demoram mais tempo porque não fazem exatamente o mesmo percurso. Passando agora ao museu, ele é bonito, faz um retrato dos coches usados pela família real (e não só) e, a meu ver, merece a sua visita. É amplo e moderno porque está agora num edifício novo. Demorou a inaugurar, mas agora está tudo acabado.
O interior do Museu dos Coches
A zona de Belém têm vários monumentos que vêm nos roteiros turísticos, mas a zona em si também é interessante porque se pode fazer tudo a pé. Tem jardins e muitos cafés para sentar e tomar algo para repor as energias. Primeiro, temos o Palácio de Belém, que não se pode visitar livremente por motivos de agenda do Presidente da República, mas que tem visitas guiadas aos sábados de manhã e de tarde. Informe-se melhor no Museu da Presidência que fica mesmo ao lado.
Os pastéis de Belém
Em seguida entramos numa zona de cafés e lojas. É aqui que se encontram os famosos Pastéis de Belém. Esta casa centenária vende os mais conhecidos pastéis de nata (que aqui se chamam de Belém) e no fundo é uma pastelaria como tantas outras em Lisboa. O que muda então? Eles produzem desde 1837 estes bolos tão conhecidos em Portugal e o espaço em si é bonito e grande. Mas a verdade é que não são os únicos. Este bolo é super popular e em todo o lado há pastéis de nata. Ele tem o tamanho certo para acompanhar um café e o creme de nata é muito saboroso. Para ser um ótimo pastel a sua massa deve estar crocante e o creme por cima ligeiramente queimado. É assim que eu gosto deles. Morno melhor ainda, mas realmente só um pequeno toque de calor. Finalmente há quem goste de polvinhar com canela e açúcar em pó. A canela dá-lhe um sabor interessante, mas o açúcar eu dispenso porque o creme já é doce por si só. E é no meio desta explicação que surge a pergunta: os pastéis de Belém são mesmo os melhores de Lisboa? Depende, eu diria. Por um lado sim são ótimos e frescos porque estão sempre a sair, o espaço é tradicional e bonito. Só que não são únicos. Toda a gente faz estes pastéis e eu pessoalmente não enfrento as filas só para comer um pastel em Belém. Mas para um turista que nunca comeu e quer sentar no café centenário e cheio de história então vale a pena tentar encontrar uma mesa e desfrutar deste mimo. Ou de vários mimos com um belo café.
O Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém
Um pouco mais à frente vêm dois dos monumentos mais conhecidos de Lisboa. Falar deles seria por si só um artigo, mas agora quero apenas continuar a “pincelar” cada freguesia. O Mosteiro dos Jerónimos é um edifício enorme de 1496 mandado construir por D. Manuel I e foi posteriormente doado aos monges da Ordem de São Jerónimo, daí o seu nome. Em 1983 foi reconhecido como Património Cultural de toda a Humanidade, pela Unesco. Aconselho a visita a esta igreja de estilo arquitetónico manuelino, pois ela é imponente e grandiosa. Só há um senão: as filas. Por isso programe bem o seu dia. Se estiver muita gente pode continuar mais um pouco e à frente há um museu que passa um pouco despercebido: o Museu da Marinha. Ao seu lado tem o Planetário Calouste Gulbenkian caso queira se enamorar com as estrelas e outras galáxias e mesmo em frente o Centro Cultural de Belém. Este edifício é muito mais recente e chama logo a atenção. Quando foi inaugurado causou muita polémica não só pela sua dimensão, mas também pelo seu estilo de construção meio árabe. Hoje em dia, já não me incomoda muito e acho que até se integra com o resto. Ele tem um museu, salas de espetáculos e algumas lojas. Aconselho ir ao terraço do café (o acesso é livre) e admire a vista da ponte a partir deste zona. Depois saia daqui e atravesse a linha de comboio (trem) pela passagem subterrânea e vá fazer fotos ao Padrão dos Descobrimentos.
Este monumento de 1940 (com posterior alteração da sua estrutura em 1960) simboliza a época dos descobrimentos portugueses. É quase imperativo os turistas irem ao Mosteiro dos Jerónimos e depois virem caminhar sobre o mundo numa enorme rosa-dos-ventos toda feita em mármore de variadas cores que está no chão que antecede o monumento. Aí você pode descobrir os caminhos do mar percorridos pelos navegadores portugueses e tirar muitas fotos. A mistura da vista do rio, com a ponte e com o Padrão dos Descobrimentos é muito especial. Pode-se subir para uma vista melhor, mas na minha opinião dirijo-me já para a próxima e última paragem – a Torre de Belém – ou não seja ela o cartão postal mais icónico de Lisboa.
Não há muito para visitar sejamos sinceros, mas depois há um todo que marca muito o coração dos visitantes. Eu adoro lá ir. A vista é fantástica, o pôr do sol vai ficar na sua lembrança e dá quase aquela ideia “sim estou em Lisboa, olhem só para mim aqui” sempre que se tira uma foto. É desta simplicidade do monumento com o esplendor da paisagem que resulta a combinação perfeita. A Torre de Belém foi construída entre 1514 e 1520 para defesa da barra de Lisboa por D. Manuel I. Atualmente, oferece um pequeno museu e é possível entrar, mas eu recomendo muito mais uma visita aos museus que falei anteriormente – destaco nomeadamente o Palácio da Ajuda e o Museu do Azulejo por exemplo. Adjacente à Torre de Belém há o Monumento aos Combatentes do Ultramar que foi inaugurado em Janeiro de 1994 e que faz homenagem àqueles que lutaram e morreram na guerra do Ultramar entre 1961 e 1974.
O resto da freguesia
Tirando esta faixa junto ao rio Tejo, a freguesia de Belém é uma zona mais distinta em termos residenciais. O Restelo é um bairro chique de Lisboa, ou melhor, tem uma parte enorme de casas que são atualmente sede de inúmeras embaixadas, com muita área verde e ruas amplas. A parte mais colada com a Ajuda é de prédios, mas continua a ser uma zona agradável e calma. Se quer comer algo rápido num espaço um pouco diferente e fugir ao turismo de massa vá até Algés que é o próximo bairro e onde acaba a linha do elétrico 15. Lá tem o Mercado de Algés onde pode saborear uma refeição ou um café num espaço moderno. Nesta mesma zona de Algés também existem diversas opções de restaurantes e cafés. Tudo longe do frenesim de Belém. Depois é só apanhar o 15 de volta ao centro.