O Algarve é um outro Portugal dentro do país. Uma região de sol e de temperaturas amenas que se deixa levar pelos mares do sul. Essa será de imediato a principal razão para o Algarve ter sido eleito por muitos como um dos melhores destinos para passar férias, sobretudo por quem vive no norte da Europa.
No verão enche de gente, mas há muito mais, com circuitos fora das zonas mais badaladas que ficam sobretudo entre Faro e Lagos, onde é possível descobrir pequenas aldeias mais longe da costa, praias menos apinhadas de gente e outras curiosidades nesta região de Portugal.
O Algarve é sinónimo de praias, hotéis e resorts, luxo e villas exclusivas que ficam escondidas na vegetação e que passam muitas vezes despercebidas de quem passa. Mas a verdade é que o Algarve também quer dizer um trecho de terra verde e fértil que anuncia grandes plantações de laranjas e enormes campos de figueirais e amendoeiras. A gastronomia tem um papel interessante com alguns pratos tipicamente algarvios (já para não falar do saboroso peixe que aí sem come) e os doces também ganham pontos com tantas propostas deliciosas. A nível do artesanato temos muita escolha e a sua arquitetura também é muito conhecida devido aos traços árabes que ainda aí persistem. Aliás, o nome Algarve vem da expressão árabe al-gharb que quer dizer ‘o oeste’, designando assim o extremo ocidental do império muçulmano.
Esta é uma zona rica em tradição e em paisagens. Entre Aljezur na costa Oeste, na Costa Vicentina, até à cidade fronteiriça de Vila Real de Santo António, a Este e bem perto de Espanha, temos uma zona diversificada e enorme para descobrir. Quer goste de mais agitação, quer seja em atividades no mar ou diversão em terra, se prefere o farniente da piscina ou quem sabe a calmaria dos passeios pelas serras algarvias, há todo um mundo para descobrir.
O clima e terreno
O Algarve está dividido em 16 concelhos que vão da costa oeste até ao Rio Guadiana, a Este. Ele é cercado por montanhas quase na sua extensão, a norte, e tem uma posição geográfica privilegiada. Por ser mais a sul tem um clima mais ameno de características mediterrânicas com mais de 3000 horas de sol por ano e com uma pluviosidade mais baixa do que no restante território.
Existem três zonas distintas: a zona litoral que é onde se encontram todas aquelas praias de cartão postal que conhecemos e onde se estão os hotéis, resorts e campos de golf; depois temos uma outra zona chamada Barrocal ou Beira-Serra que é uma faixa que ainda se encontra relativamente perto do mar, menos residencial e mais agrícola em que se destaca a famosa laranja do Algarve, os figos, o medronho e o mel; finalmente temos a terceira zona que é a serra e que ocupa metade do território algarvio sendo composta, na verdade, por três serras: Espinhaço de Cão, Monchique e Caldeirão. Aliás, são estas serras que em conjugação com a situação geográfica mais a sul fazem uma espécie de barreira e criam um clima mais temperado. É frequente que Faro, embora esteja mais perto de Marrocos e de África, não seja a cidade mais quente. Beja e Évora ganham em temperaturas altas e até Lisboa é muitas vezes mais quente. O que acontece é que Faro e todas as outras cidades costeiras têm temperaturas mais amenas em que a diferença da temperatura mínima e da temperatura máxima é menor. Não diria que isto é um facto comprovado, mas apenas a minha constatação e experiência do Algarve. Claro que as correntes de ar quente vindas de África são um fator determinante.
Um pouco de história
O Algarve tem uma longa história que ainda hoje conseguimos identificar na sua arquitetura, chaminés rendilhadas, casas brancas e azulejos típicos. Também é possível perceber as marcas que diversos povos e culturas deixaram nesta zona do país, desde os vestígios neolíticos, passando pelos cinco séculos de domínio árabe que tiveram grande influência na história desta região.
Entre 711 e 1249, a região foi dominada pelos árabes e foi a partir desta data que os reis portugueses passaram a designar-se como “reis de Portugal e dos Algarves”. Depois de anexar esta região ao restante território, agora já no início do século XV, o Algarve desempenhou um papel importante porque foi precisamente em Sagres que o Infante D. Henrique montou uma escola de navegação e aí se iniciou a era dos Descobrimentos. Em 1755 um grande terramoto (que afetou aliás muito Lisboa) teve o seu epicentro a sul de Lagos o que provocou enormes danos nos edifícios da época, daí haver poucos edifícios anteriores a essa data.
A partir dos anos 60 começa uma nova era no Algarve com a abertura do aeroporto de Faro. Ao ‘paraíso esquecido’ começaram a chegar turistas de toda a Europa, impulsionando muitos complexos hoteleiros e, consequentemente, a importância do turismo na economia algarvia.
De acordo com o último relatório publicado pelo Turismo de Portugal de Abril do ano passado, o Algarve registou em 2017 mais de quatro milhões de hóspedes, representando cerca de 20% de toda a procura em Portugal, com os nacionais a aumentarem 3,3% em 2017. O top cinco dos mercados emissores de turistas foram o Reino Unido, Alemanha, Holanda, Irlanda e França. O crescimento do aeroporto de Faro embora tenha sido menor que o do resto do país, foi mesmo assim em 2017, de 14,6%. No último relatório do Turismo de Portugal que reflete o acumulado do mês de Novembro, um mês considerado fraco pela indústria hoteleira, para todo o território nacional, a lista de hóspedes estrangeiros é encabeçada pelo Reino Unido, Alemanha, Espanha, França, Holanda, Brasil, EUA, Irlanda, Itália e Polónia.
Apesar destes números de turistas que visitam Portugal, e o Algarve em concreto, ainda há muitas pequenas cidades, sobretudo na Costa Vicentina e no interior, que teimam em ficar arredadas dos fluxos turísticos e da vida algo agitada da costa. Por aí consegue-se usufruir da tranquilidade das paisagens tão propícias a bons passeios. É desse Algarve menos conhecido, mas também do mais badalado e eclético, que irei falar nos próximos artigos “Conhecendo o Algarve”.